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Conhecer o gás GLP ajuda a explicar os acidentes e evitá-los:

Você já imaginou se seu desodorante de spray explodisse quando você estivesse usando? Sabia que dentro dele há gases butano e propano, os mesmos utilizados nos botijões de cozinha? Não acredita? Então leia o rótulo de ingredientes do seu desodorante (se for spray é claro). O Propano e Butano são usados para expulsar o produto (perfume) do tubo causando o spray. Pois é, mas não se preocupe que seu desodorante não vai explodir, exceto se você jogar o tubo em uma fogueira. Ou seja, o uso correto do desodorante e do botijão de gás é fundamental para se evitar acidentes.

Porque e como acontece uma explosão de gás?

Se você encher um balão de ar demasiadamente ele rompe e estoura. Porque a pressão foi superior a que o balão agüentava, pois a quantidade de ar que você colocou ao encher foi acima da capacidade prevista para o balão.

Em um vazamento de GLP o gás em seu estado gasoso preenche o ambiente (se não for ventilado e assim reter o gás), ao encontrar uma fonte de ignição (chama, fagulha, etc.) ele queima e imediatamente se expande causando a explosão em milésimos de segundos. Como conseqüência concomitante há um enorme deslocamento de ar destruindo tudo a sua volta. Quanto maior for a quantidade de gás e menor o confinamento do mesmo, maior será a pressão da explosão e do deslocamento de ar.

A queima do GLP chega a mais de 1.000° C se extinguindo em milésimos de segundos transformando-se em monóxido de carbono (CO). Esse fenômeno se chama FLASH, e mata todas as pessoas em contato com essa onda de calor.

Entendendo o Botijão de gás, quais os tipos, o que tem dentro:

Existem tipos diferentes de botijão em razão da capacidade de gás que carregam, conforme tabela abaixo:

Botijão

Volume de GLP

GLP Kg

Uso mais comum

Norma da Válvula

P-2 5,5 litros 2 kg Fogareiros, lampiões e maçaricos NBR 8614
P-5 12,0 litros 5 kg Uso doméstico para cozimento de alimentos e maçaricos NBR 8614
P-13 31,5 litros 13 kg Uso doméstico para cozimento de alimentos NBR 8614
P-20 48,0 litros 20 kg Exclusivo em empilhadeiras a GLP NBR 14536
P-45 108,0 litros 45 kg Doméstico e industrial (cozimento de alimentos, aquecimento, fundição, soldas, etc) NBR 13794

Dentro do Botijão tem GLP, que significa Gás Liquefeito de Petróleo, que são os gases derivados do refino do petróleo. Existem dois gases dominantes dentro do botijão, o Propano e o Butano. Ambos são mais pesados que o ar. Como assim? O ar pesa 1,293Kg/m³, o Butano pesa 2,709Kg/m³ e o Propano pesa 2,010Kg/m³ todos nas condições normais de temperatura e pressão.

[ Observação importante: O gás natural ao contrário é mais leve que o ar, pesa entre 700 gramas e 1Kg /m³. Isso explica que vazamentos de gás canalizado sobem e ficam retidos no teto, precisam de ventilação na parte mais elevada de onde se encontram. O gás de butijão (GLP), ao contrário, é mais pesado que o ar e seu vazamento fica preso em porões e sub-solos.]

O Propano é mais leve que o Butano e provoca aquela chama azul característica, por isso ele sai antes do Butijão e queima primeiro. O Butano é mais pesado e queima por último. Por transportar partículas que se depositam no fundo no botijão, sua chama é amarelada ou “suja”. Por isso, quando a chama do fogão começa a ficar amarela é sinal de que o gás está acabando.

Desfazendo mitos: Botijão de GLP não explode!

Para dar bastante gás no Botijão, o GLP é engarrafado no Botijão sob forte pressão, o que faz com que o gás se torne líquido. Mas essa pressão não faz o Botijão explodir? Não, porque o Botijão é feito de chapas de aço muito resistentes que agüentam 15 kgf/cm2, enquanto o GLP é colocado na pressão de aproximadamente 8Kgf/cm² suficientes para liquefazer o gás mas muito abaixo do que suporta o Botijão.

No botijão de gás de 13kg (Botijão de cozinha), cerca de 85% do gás está em estado líquido e 15% em estado gasoso. Por isso nunca se deve deitar o botijão de gás, pois se o gás em fase líquida for expelido (o GLP líquido não pode alcançar a válvula no topo do Botijão) poderá provocar acidentes muito sérios.

No caso do Restaurante Filé Carioca, vimos pelas imagens os Botijões sendo retirados pelos bombeiros intactos. O prédio destruiu mas o Botijão permaneceu inteiro. Ou seja, ele não explode. Apenas se houver um incêndio que aqueça o Botijão, o calor do ambiente ou das chamas aquecerá o gás dentro do Botijão aumentando a sua pressão interna. Com isso a válvula de segurança (que impede o Botijão de explodir) irá liberar o gás no ambiente alimentando o incêndio. Semelhante a válvula da panela de pressão. Em suma, Botijão não explode nem em um incêndio.

Entendendo os Vazamentos:

O GLP não tem cheiro, por isso um composto a base de enxofre (etil-mercaptana) é adicionado ao gás para revelar a sua presença caso haja vazamento. O GLP não é venenoso, mas é asfixiante. Por ser mais pesado que o ar, quando há vazamento de GLP num local fechado este vai se acumulando ao nível do chão e expulsa gradualmente o oxigênio do ambiente, causando asfixia em quem permanecer ali. Logo, Botijão com vazamento precisa ser removido para um local aberto.

Mas é importante saber que cada Botijão tem uma capacidade de vaporizar gás no ambiente! Ou seja, supondo todas as torneiras abertas de um forno e do fogão, se este estiver ligado a um Botijão de 13Kg, teremos o vazamento de 600 gramas de gás por hora. O P45 somente consegue expelir (vazando, aberto ou alimentando um fogão) 1Kg de gás por hora.

Botijão

Quantidade de Gás

Capacidade de vaporização a 20°C

P-2

2 kg

0,2 kg de gás por hora

P-5

5 kg

0,4 kg de gás por hora

P-13

13 kg

0,6 kg de gás por hora

P-45

45 kg

1,0 kg de gás por hora

Se o Botijão sua ou congela é por que estamos tentando retirar dele mais do que ele consegue entregar de gás por hora. E quanto mais ele sua ou congela, menos ele entrega de gás. Pois o gás precisa trocar calor para sair do estado líquido para gasoso.

Demanda de 2 Botijões P13 para operar.
Demanda de 2 Botijões P13 para operar.

Em suma, muita gente por ignorância não dimensiona adequadamente o Botijão às necessidades dos aparelhos (fornos e fogões) que a ele estão conectados. Com isso, o resultado de queima é insatisfatório, e o desperdício de gás é alto, fazendo com que os usuários desavisados ou “espertos” comecem com as suas gambiarras, deitando o Botijão, aquecendo a parede do Botijão, etc. A ignorância pelo uso correto está no início do dominó do acidente com gás e suas mortes.

Como verificar e o que fazer em casos de vazamentos:

Ao passar uma esponja com água e sabão sobre a conexão da borboleta do registro com a válvula do Botijão, você poderá observar a existência ou não de bolhas de ar na espuma. Outra forma é verificando a existência de chiado de escapamento ou a presença de cheiro característico (enxofre) do gás no ambiente. Nunca use fósforo ou qualquer tipo de chama para verificar se há vazamentos. Isso pode provocar graves acidentes.

Em caso de vazamento de gás como proceder? Abra portas e janelas para aumentar a ventilação;
Não ligue nem desligue qualquer equipamento elétrico ou interruptores evitando faíscas ou centelhas;
No caso de persistir o vazamento desatarraxe a rosca do regulador, e solicite a presença da Assistência Técnica do fabricante do Botijão.

Persistindo o vazamento, após desatarraxar a rosca, se possível, retirar imediatamente o botijão para fora da casa, colocando-o em local arejado, longe de fontes de ignição e calor. Alerte as pessoas próximas sobre o perigo e chame urgentemente a Assistência Técnica ou o Corpo de Bombeiros.
 

Aprendendo a lidar com Botijão de GLP:

Jamais deitar o Botijão, jamais aquecer ou colocar fogo sob o Botijão, jamais transportar o Botijão deitado ou em ambientes fechados. Observe e siga as instruções corretas de instalação, e sempre teste com sabão eventuais vazamentos de gás. Ao terminar de cozinhar sempre feche a válvula do Botijão.

 

Válvula do P45 é seguro fechá-la quando não estiver em uso.
Válvula do P45 é seguro fechá-la quando não estiver em uso.

Mangueiras:
A mangueira a ser usada deve ser aquela normatizada, feita de plástico (PVC) transparente, com uma tarja amarela onde estão gravados o prazo de validade (5 anos) e o código NBR-8613, uma garantia de que foi fabricado segundo padrões técnicos de segurança. Esta mangueira é a recomendação básica, porém, outra de melhor qualidade também pode ser utilizada, como por exemplo a mangueira de tramas de aço.

O comprimento máximo da mangueira é de 1,25 metros, conforme determina a norma NBR-8613. A mangueira não pode encostar no fogão, não pode ser aquecida, não devendo portanto passar por trás do fogão.

RISCO: Mangueira colada a forno em restaurante
RISCO: Mangueira colada a forno em restaurante

Válvulas reguladoras de gás:
O regulador de gás é popularmente conhecido, principalmente, pelas donas de casa, como click,peça que se usa para abrir e fechar a passagem do gás de cozinha e que conecta a mangueira ao Botijão.

O gás liquefeito de petróleo (GLP) é colocado sob alta pressão no Botijão e considerando que o gás está sob alta pressão, o regulador é fundamental para reduzir a pressão da chama em até 250 vezes, possibilitando uma chama constante e uniforme.

O regulador de pressão para Botijões de até 13Kg é normatizado pela NBR 8614, já o P45 exige um regulador mais potente sendo normatizado pela NBR 13794. Portanto, jamais aproveite instalações antes usadas no P13 para o P45, este é um erro muito comum.

Regulador de pressão do P 13
Regulador de pressão do P 13
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Catástrofes naturais Chuvas e Alagamentos Meio Ambiente

Um mês depois da tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro (FOTOS)

No dia 11 de janeiro de 2010, às 2 horas da madrugada, houve uma chuva muito volumosa que atingiu a Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro deixando 892 mortos (contagem até 10 de fevereiro), 400 desaparecidos, e 35 mil desalojados ou desabrigados nos 16 municípios afetados. 

O país tem, atualmente, cerca de 20 radares meteorológicos e 800 pluviômetros automáticos. Os radares captam dados sobre o movimento de circulação da massa de ar e de gotículas de água.  Os dados são processados em supercomputadores para prever a localização e intensidade das chuvas. Já o pluviômetro mede o volume da chuva que caiu. O monitoramento desse dado pode informar se o solo de uma região, como o das encostas de morros, recebeu muita água e pode ter risco de deslizamento.  A Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (INPE) possui inúmeros sensores ambientais (clima, ventos, pluviômetros, etc.) os quais podem ser conhecidos no site: http://www.sinda.crn2.inpe.br/PCD/ 

Em média, a região serrana tem índice pluviométrico de 290 milímetros de chuva por mês, mas que em apenas uma noite Nova Friburgo teve precipitação de 182 milímetros, Teresópolis 124 milímetros, e em Petrópolis não há estação que consiga apontar com precisão a quantidade de chuva que caiu sobre a cidade. Vale lembrar que esta é uma média para a cidade toda, pois determinados bairros podem ter recebido um volume de chuvas diferente daquele bairro onde fica localizado o pluviômetro.

Imagem de Satélite do INPE-CPTEC do dia 11/01/2011 às 2:00hs AM
Foto de Satélite INPE-CPTEC das chuvas no dia 11/02/2011 às 2:00hs AM

 

Ainda que tenhamos uma variação dentro da região, o que explica um bairro mais afetado que outro nas cidades da Região Serrana, 182 mm de chuva significam 182 litros d´água por metro quadrado. Isso num curto espaço de tempo (uma noite) explica a enchente que destruiu casas e morros. Pela imagem de satélite percebemos que os bairros mais afetados de Itaipava e de Teresópolis estão próximos do mesmo conjunto de montanhas, o qual supostamente recebeu o maior volume de chuva. Na foto está faltando o bairro de Santa Rita mais ao fundo do Vale do Cuiabá e próximo da Posse em Teresópolis.

Mapa do Google Earth sobre a região mais afetada de Itaipava e Teresópolis
Mapa do Google Earth

No dia 5 de fevereiro de 2011 visitei o Vale do Cuiabá, no Distrito de Itaipava em Petrópolis. O cenário de destruição que presenciei me remete a uma situação de guerra: carros amassados como uma bola de papel, algumas casas rasgadas como que sacudidas por um terremoto, outras casas soterradas até o telhado. Os moradores com que conversei passam por um momento muito triste em suas vidas, parece que estão num interminável velório. Mas aos poucos a cidade vai se recuperando graças a força de seu povo.

Tirei algumas fotos que contam essa terrível história:

1) Me chamou atenção uma árvore de 50 metros de altura que possui machucados em uma parte bastante alta, comprovando o surpreendente nível que a enchurrada atingiu. A água e lama passaram empurrando pedras, troncos e outros materiais  que deixaram marcar nesta árvore.

 

Árvore encontrada 20 Km adentro do Vale do Cuiabá
Árvore encontrada 20Km adentro do Vale do Cuiabá

 

2) Carros completamente destruídos e levados pela força da água e lama como se fossem leves.
  

 Carro 4

 Carro 9

 

 Carro 10

 3) Estava no Vale – portanto cercado por montanhas – e para onde olhasse notava morros com deslizamentos graves, mesmo os menores. Não há nenhum morro sem deslizamento em qualquer direção que se olhe.

 

Deslizamento 4

Deslizamento 5

 

 Deslizamento 6

 

 4) Algumas casas foram completamente soterradas, outras ficaram submersas no mar de água e lama, restando apenas o telhado ou andares mais altos quando os tinham. Reparei nos relógios medidores de consumo de energia, que ficam normalmente à altura dos olhos entre 1,70m e 1,80m, e os encontrei encostados ao chão de lama. Ou seja, as casas foram soterradas até 1,70m de altura com lama. 

relogio de luz
Medidor de Consumo de Energia quase no nível do chão após casa soterrada

 

 

Repare o nível que a água / lama atingiu na parede da casa.
Repare o nível que a água / lama atingiu na parede da casa.

  

A força da água era tão grande que arrancou pedaços das casas.
A força da água era tão grande que arrancou pedaços das casas.

 

Este quarto foi invadido pela lama e galhos às 2hs da madrugada.
Este quarto foi invadido pela lama e galhos às 2hs da madrugada.

 

A altura da enchurrada foi desigual entre as casas.
A altura da enchurrada foi desigual entre as casas.

  

5) Da antiga fazenda só restou o silo.

 

Antiga Fazenda no Vale do Cuiabá
Antiga Fazenda no Vale do Cuiabá

 

Foto antiga da mesma Fazenda no Vale do Cuiabá
Foto antiga da mesma Fazenda no Vale do Cuiabá

 

 6) A Estrada do Vale do Cuiabá – Estrada Ministro Salgado Filho – foi muito prejudicada pela lama e entulho trazidos pela chuva. Possui vários trechos encurtados e destruição ao longo de suas margens. Os postes da rede elétrica e de telefonia derrubados já foram substituídos por outros novos.

Antigo poste derrubado pela força da chuva
Antigo poste derrubado pela força da chuva

 

Novos postes instalados restabelecem luz e telefonia
Novos postes instalados restabelecem luz e telefonia
Estrada Min Salgado Filho encurtada e com muitos obstáculos
Estrada Min Salgado Filho encurtada e com muitos obstáculos

 

Destruição à margem da Estrada no Vale do Cuiabá
Destruição à margem da Estrada no Vale do Cuiabá

 

Muitas pedras também foram trazidas pela enxurrada. Algumas enormes.
Muitas pedras também foram trazidas pela enxurrada. Algumas enormes.

 

 7) A ponte sobre o Rio Santo Antonio, que corta todo o Vale do Cuiabá e Vale da Boa Esperança para desaguar no Rio Piabanha de Itaipava, ligando a Estrada Philúvio Cerqueira Rodrigues  (que forma a BR 495 Itaipava – Teresópolis)  ao bairro Madame Machado foi afetada e encoberta pela enxurrada.

 

Ponte sobre Rio Santo Antonio que liga ao bairro Madame Machado
 
Ponte para Madame Machado
Ponte que liga a Madame Machado danificada, sobre Rio Santo Antonio

  

  

Conclusão:
Acredito que as imagens servem para contar a história real, pois a profundidade desta catástrofe jamais seria alcançada apenas por palavras. E na qualidade de gerente de riscos estudamos os acidentes para aprender com eles e trabalhar para que não se repitam. Reforço o discurso de remoção das áreas de risco, e de que enquanto isso não é possível que se criem planos de contingência. Resumidamente a idéia é de se monitorar o volume de chuvas e que quando estes antingirem determinado patamar que se evacue a região afetada.