O país tem, atualmente, cerca de 20 radares meteorológicos e 800 pluviômetros automáticos. Os radares captam dados sobre o movimento de circulação da massa de ar e de gotículas de água. Os dados são processados em supercomputadores para prever a localização e intensidade das chuvas. Já o pluviômetro mede o volume da chuva que caiu. O monitoramento desse dado pode informar se o solo de uma região, como o das encostas de morros, recebeu muita água e pode ter risco de deslizamento. A Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais (INPE) possui inúmeros sensores ambientais (clima, ventos, pluviômetros, etc.) os quais podem ser conhecidos no site: http://www.sinda.crn2.inpe.br/PCD/
Em média, a região serrana tem índice pluviométrico de 290 milímetros de chuva por mês, mas que em apenas uma noite Nova Friburgo teve precipitação de 182 milímetros, Teresópolis 124 milímetros, e em Petrópolis não há estação que consiga apontar com precisão a quantidade de chuva que caiu sobre a cidade. Vale lembrar que esta é uma média para a cidade toda, pois determinados bairros podem ter recebido um volume de chuvas diferente daquele bairro onde fica localizado o pluviômetro.
Ainda que tenhamos uma variação dentro da região, o que explica um bairro mais afetado que outro nas cidades da Região Serrana, 182 mm de chuva significam 182 litros d´água por metro quadrado. Isso num curto espaço de tempo (uma noite) explica a enchente que destruiu casas e morros. Pela imagem de satélite percebemos que os bairros mais afetados de Itaipava e de Teresópolis estão próximos do mesmo conjunto de montanhas, o qual supostamente recebeu o maior volume de chuva. Na foto está faltando o bairro de Santa Rita mais ao fundo do Vale do Cuiabá e próximo da Posse em Teresópolis.
No dia 5 de fevereiro de 2011 visitei o Vale do Cuiabá, no Distrito de Itaipava em Petrópolis. O cenário de destruição que presenciei me remete a uma situação de guerra: carros amassados como uma bola de papel, algumas casas rasgadas como que sacudidas por um terremoto, outras casas soterradas até o telhado. Os moradores com que conversei passam por um momento muito triste em suas vidas, parece que estão num interminável velório. Mas aos poucos a cidade vai se recuperando graças a força de seu povo.
Tirei algumas fotos que contam essa terrível história:
1) Me chamou atenção uma árvore de 50 metros de altura que possui machucados em uma parte bastante alta, comprovando o surpreendente nível que a enchurrada atingiu. A água e lama passaram empurrando pedras, troncos e outros materiais que deixaram marcar nesta árvore.
3) Estava no Vale – portanto cercado por montanhas – e para onde olhasse notava morros com deslizamentos graves, mesmo os menores. Não há nenhum morro sem deslizamento em qualquer direção que se olhe.
4) Algumas casas foram completamente soterradas, outras ficaram submersas no mar de água e lama, restando apenas o telhado ou andares mais altos quando os tinham. Reparei nos relógios medidores de consumo de energia, que ficam normalmente à altura dos olhos entre 1,70m e 1,80m, e os encontrei encostados ao chão de lama. Ou seja, as casas foram soterradas até 1,70m de altura com lama.
5) Da antiga fazenda só restou o silo.
6) A Estrada do Vale do Cuiabá – Estrada Ministro Salgado Filho – foi muito prejudicada pela lama e entulho trazidos pela chuva. Possui vários trechos encurtados e destruição ao longo de suas margens. Os postes da rede elétrica e de telefonia derrubados já foram substituídos por outros novos.
7) A ponte sobre o Rio Santo Antonio, que corta todo o Vale do Cuiabá e Vale da Boa Esperança para desaguar no Rio Piabanha de Itaipava, ligando a Estrada Philúvio Cerqueira Rodrigues (que forma a BR 495 Itaipava – Teresópolis) ao bairro Madame Machado foi afetada e encoberta pela enxurrada.
2 respostas em “Um mês depois da tragédia das chuvas na Região Serrana do Rio de Janeiro (FOTOS)”
bom dia. sim, a tragédia teve consequências que irão transformar a vida da região. O pensamento agora é: como trabalhar um país que não pensa o futuro. como viver com o medo de tudo – marginalidade, crimes, decisões políticas demagogas – e agora também o medo da enxurrada que a natureza está trazendo. Complicado.
Se aprendessemos com os erros do passado, a tragédia não teria acontecido. Perguntem aos mais velhos se o ocorrido em 1966 não foi até pior do que o ocorrido agora. Infelizmente se dependermos do poder público, daqui a 45 anos ou menos vamos estar assitindo a tragédia similar. As ações precisam ser imediatas. E o imediato já passou, as pessoas já estão vivendo suas vidas, e nossos políticos já voltaram seus olhos para a Copa do Mundo e Olimpiadas. Lamentavelmente, o bonde da história passou novamente e não conseguimos entrar nele.